A Batalha pelo Leite Cru e Queijo de Leite Cru: Especialistas descrevem a situação nos próprios países

Slow Food vem lutando pelos direitos dos consumidores de comprar leite cru e dos produtores de queijo de produzir queijo de leite cru há quase duas décadas, e seu evento semestral Cheese já tornou-se fórum de divulgação do assunto. Este ano Cheese 2011 lança novo site da campanha Slow Food pelo leite cru, www.slowfood.com/rawmilk. Como parte da campanha, um painel internacional de produtores, técnicos e vendedores de queijo se uniram para compartilhar suas experiências e descrever a situação nos próprios países.

Um dos países da mais rígida legislação contra o leite cru é a Austrália.  O especialista em queijos Will Studd vem lutando pela mudança desta há anos, mas com pouco sucesso. É ilegal exportar queijo de leite cru e desde 1996 a produção e venda de todo queijo de leite cru é proibida, com pouquíssimas exceções. “Imagine um mundo sem o Parmigiano Reggiano”, perguntou ao público. “Quando seu país proíbe este tipo de queijo, é hora de lutar. Estamos na batalha pela mudança desde 1996 e o governo não dá ouvidos. Acabaram de anunciar na semana passada que não recomendam nenhuma mudança importante na situação atual”. Afirmou que a venda de leite cru se tornaria crime. “O pais que representa 12 por cento da produção mundial de queijo pode servir de exemplo a ser seguido pelos Estados Unidos, e quem sabe a Europa. Vale a pena lutar pelo direito de escolha”.

O produtor de queijo norte americano Mateo Kehler explicou como a situação no seu país pode também piorar: “Nossa situação é bastante precária. A FDA propõe-se fazer uma avaliação de risco que levará a mudanças nos próximos 12 a 18 meses”.  Atualmente os queijos podem ser feitos de leite cru se maturados por pelo menos 60 dias, mas isto pode mudar. Ele disse que produtores de queijo nos Estados Unidos estão organizando cientistas a publicarem pesquisas sobre a segurança do leite cru, e apesar de dizer que necessitaria muita pressão pública para manter o direito de fazer queijos de leite cru, mostrou-se em geral otimista. “Está acontecendo uma revolução  fora do controle do governo. As pessoas estão votando com seus garfos e se decidindo quanto ao que querem comer”.  Concluiu: “Se é possível vender sushi e ostras, deveria ser possível vender leite cru seguro”.

Elisabeth Ryan coordena uma campanha na Irlanda contra as propostas de mudanças na legislação que tornariam ilegal a venda do leite cru. Disse que o governo está sofrendo pressão da Autoridade de Segurança Alimentar da Irlanda para apresentar uma imagem internacional da Irlanda como país de alimentos seguros. “Esta ‘esterilização’ de alimentos põe em jogo a qualidade” ela disse. “Precisamos achar um meio de convencer o governo de que com regulamentos e melhores práticas podemos minimizar os riscos do leite cru. A estimativa é de que 100,000 pessoas na Irlanda consomem leite cru e tivemos apenas dois casos de doença pelo leite cru nos últimos 10 anos”.

Ryan trabalha para Sheridans Cheesemongers, e um dos seus fundadores,  Seamus Sheridan, também opinou: “Aqui no Langhe vocês produzem um belo vinho. Eu não acho que deve ser pasteurizado. Na Irlanda produzimos o mais belo leite cru do mundo e acredito que os produtores devem ter o direito de vendê-lo de forma segura da maneira que queiram”, disse.  “Temos que lutar pela biodiversidade de nossos agricultores, alimentos e agricultura e pelo prazer e sabor”.

Dos Países Baixos, Marjolein Kooistra, coordenadora do Aged Artisanal Gouda Presidium, descreveu uma situação diferente. A venda do leite cru não é grande questão no seu país, ela disse, mas o principal problema enfrentado pelos produtores de queijo de leite cru é o leite aquecido vendido como leite cru.

Piero Sardo, presidente da Slow Food Foundation for Biodiversity (Fundação Slow Food pela Biodiversidade), fechou o debate com algumas palavras finais. Culpou as indústrias de leite pela imposição da pasteurização e por fazer lobby contra o leite cru. “Temos 10.000 anos de leite cru antes de Pasteur, e ainda estamos aqui. A Europa não foi atingida por uma epidemia”, disse, chamando então ao público para apoiar a luta.  “Somos os únicos que podem lutar contra isso. Não podem nos forçar a comer alimentos estéreis, mas ninguém vai nos defender. Temos que fazer isto nós mesmos, por meio da escolha, protestos, organização de eventos, campanhas, e nos recusar a comer queijos processados que parecem de plástico”.

 

O site
Atualmente em italiano e inglês, logo será traduzido em mais cinco idiomas. O site discute os benefícios e as preocupações do leite cru, e conta as histórias da campanha Slow Food e “Heróis do Leite Cru” em vários países. “Queremos destacar o incrível trabalho dos pastores de ovelhas, produtores de queijo, às vezes em áreas muito marginalizadas. Estes são os verdadeiros heróis que queremos mostrar ao mundo”, disse  Michele Mesmain da Slow Food.  www.slowfood.com/rawmilk

Article translated by Robin Geld 

Source: http://www.slowfood.com/international/slow-stories/110022/the-battle-for-raw-milk/q=AF09C1?-session=query_session:42F948F9166a33186AGg4C91BA35

3 responses to “A Batalha pelo Leite Cru e Queijo de Leite Cru: Especialistas descrevem a situação nos próprios países

  1. No Brasil esta luta é recente, alguns produtores na região de Serra do Salitre, MG já estão com 10 anos de luta e tentando desenvolver de um produto de melhor qualidade, mas ainda estão nos primeiros degraus de conseguir retorno econômico.

  2. Luta difícil que deve valer. Clique no item SerTaoBras acima para ver alguns dos desenvolvimentos recentes, e quem sabe contribuir com suas informações.

  3. Pingback: A batalha do queijo | Coletivo Gourmet·

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